[...]Tontura. Um barulho absurdo entrou pelos seus ouvidos. Buzinas, risadas altas, camelôs anunciando produtos pirateados, cobradores de lotações berrando itinerários... tudo isso vinha a seus ouvidos. Aquelas ruas, quando as olhou pela última vez estavam abarrotadas de gente no vaivém frenético do dia a dia, hoje pareciam um cenário de algum filme surrealista, uma coisa à John Carpenter. - Bento, André Vianco.
Esse é o quinto livro brasileiro que eu li esse ano e provavelmente o último de 2016. Bento é uma aventura fantástica pós-apocalíptica escrita pelo André Vianco, autor dos best-sellers Sétimo e Os Sete, e ele vai dar vida a um mundo em que o medo da noite impera, afinal a noite é dos vampiros.
O Vampiro-Rei - Livro 1 - Bento vai narrar com está o mundo 30 anos após a tenebrosa Noite Maldita, ou seja, quando os seres humanos dormiram e acordaram ou como vampiros ou como caças ou nem mesmo acordaram Os grandes centros urbanos viraram túmulos gigantes repletos de adormecidos e vampiros e, nas regiões interioranas, formaram-se fortificações em que humanos desesperados se reuniam. A única salvação encontrada foram os bentos, homens que acordaram com a incrível capacidade de matar vampiros por instinto.
No Hospital Geral de São Vítor, um adormecido acorda sem saber o nome, a profissão e tudo relacionada a sua antiga vida. De outro ponto do Brasil, de Nova Luz, saem Adriano e seu comboio para por o plano de acabar com os vampiros em ação. Por sorte, parece que a profecia feita pelo velho Bispo de que o trigésimo bento, o salvador, havia surgido e traria quatro milagres capazes de derrubar os malditos noturnos.
André Vianco criou uma história tentadora. A ideia de por um herói típico e uma profecia básica pode parecer simplória, mas a construção não é tão simples assim. O narrador em terceira pessoa sabe brincar com sua sensação de desconforto em relação ao enredo. Quando o leitor se mostra avesso a algum ponto, provavelmente um personagem sentirá a mesma coisa. Como por exemplo, o ritmo desenfreado do protagonista que cansa quem lê e quem acompanha a jornada.
Um ponto altíssimo desse estilo narrativo são os parágrafos grandes ou enormes fluxos de consciência. No começo, causas estranhamento parágrafos de uma página e meia, mas são completamente justificáveis, eles causam agonia, aflição, embora não medo. Em nenhum momento me ocorreu a sensação de terror e não imagino que seja esse o objetivo do André Vianco, me pareceu mais uma fantasia pós-apocalíptica mesmo.
A evolução do núcleo de vampiros é bem interessante. Tanto Cantarzo quanto Raquel e Anaquias me deram aquela vontade de torcer. Torci pelo Cantarzo desde a primeira cena. Eu torci para Raquel encontrar o Cantarzo. E torci pela independência do Anaquias. Obrigado por esses vilões, Vianco!
É magistral o quão brasileiro é Bento. Não existe um ponto em que se duvide daquele cenário. Eu fiquei tentando reproduzir sotaques e maneirismos. Sem falar no cenário criado que aparenta um abandono próximo a The Walking Dead somado à exuberância natural brasileira.
Uma coisa que incomodou um pouco foi a ausência de personagens femininas fixas e representativas. São todas coadjuvantes dos coadjuvantes, geralmente estão ali para morrer. Pelo menos morriam com bravura. Mas a miscigenação brasileira está bem representado. Têm índio, negro, orienta, ruivo, reforçando o enredo extremamente brasileiro apesar da temática vampírica.
Como o enredo é bem fechado, não sentindo tanta sede por Bruxa Tereza, mas, mesmo assim, estou interessado. Isso se deve porque a história foi primeiramente pensada para um livro só que a imaginação fluiu e vieram mais dois livros.
Espero que leiam e gostem de Bento tanto quanto ou mais que eu. A saga O Vampiro-Rei é um exemplo de livro brasileiro que vale a pena.
Até segunda!