segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Resenha: "Dragões de Éter - Corações-de-Neve"

Eles nunca foram crianças. Eles nasceram no mundo adulto. E mais; eles sobreviveram a ele até hoje. E, agora, pela primeira vez, estão ganhando em sentido de unidade. Um sentido que torturador algum conseguirá tirar deles. - Dragões de Éter - Corações-de-Neve, p. 283


Eu sei que a resenha do primeiro livro não pertence a esse blog, então a gente precisa lembrar um pouco sobre Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas. Na estreia de Raphael Draccon, é inaugurado o universo de Nova Ether onde vivem os contos-de-fada e tem como protagonistas João e Maria e Chapeuzinho Vermelho. Depois da Caça às Bruxas, o reino de Arzallum de Primo Branford está sob ameaça de um ataque pirata e as bruxas querem voltar à ação.
Agora que vocês já sabem da temática do primeiro volume, vamos resenhar o segundo. Spoilers  de Caçadores de Bruxas estão por sua conta em risco a partir de agora.
Após seis meses da morte de Primo Branford, Anísio assume o trono de Arzallum e começa a gerar atritos por Nova Ether. Enquanto isso, seu irmão e príncipe Axel está se preparando para lutar no Punho de Ferro, em Andreane. Nesse contexto, Snail Galford e Liriel Gabianni começam a reunir órfãos para lutar por um motivo maior.
Arianne Narin começa o seu treinamento de bruxa com Madame Viotti e sua mãe e avança na sua relação com João. Maria e seu irmão passam por situações pesadas envolvendo seu pai e envolvendo segredos.
O mais interessante nesse livro é a evolução de cada personagem central. Arianne segue a linha do primeiro livro agora descobrindo e evoluindo seus poderes com sua acidez, língua afiada. Não conheço personagem como ela. Maria agora é professora da Escola do Real Saber e está descobrindo o lado duro da paixão, mas, ao mesmo tempo, mostra uma força incrível para segurar as rédeas na casa dos Hanson. João força a sua própria independência e é o personagem com uma curva dramática muito bem construída. Temi muito por esse menino.
Enquanto eu lia, achava que ia perder meu Snail para um lado ruim, mas esse cara sempre surpreende e continuo a amá-lo. O mesmo aconteceu com Anísio, mas de um jeito diferente, porque ainda não sei o que achar do rei. Ele tem momentos rudes, doces, é engessado, o extremo oposto de Axel que é super natural, assim como Branca. A princesa tem um texto que flui muito bem.
O narrador, que era o evento à parte o primeiro livro, está mais retraído. Ele conversa muito menos com o leitor com o do primeiro, mas ele continua a arrepiar nos momentos certos. Raphael Draccon é um ótimo bardo.
Esse livro é mais ensandecido em questão de referências. A cada lado que você olha, tem um personagem dando um tapa na sua cara dizendo que ele é um conhecido seu de longa data. Às vezes são rudes e podem parecer desnecessárias, outras você fica QUE? e querendo saber qual vai ser a função deles.
O livro parece às vezes machista, mas as personagens femininas se impõem o que me leva a crer que que é interferência do narrador que é quase um ser humano. Parabéns ao Draccon pela construção da Branca e da Bradamante.

Raphael Draccon mostra mais uma vez a força da fantasia brasileira, que hoje tem muitos representantes bons.
Também foi confirmado, enquanto lia, o 4º livro da saga. Se quiser embarcar nessa tour comigo então só fechar os olhos e segurar a minha mão. Vamos em 3... 2.. 1.
Até a próxima!

terça-feira, 3 de outubro de 2017

"Sob Pressão" - O Veredicto Final

EVANDRO: Madalena morreu, eu não escolhi sofrer!
CAROLINA: Ah, mas você escolhe se vai continuar sofrendo todo dia - Sob Pressão, S1E02

Precisamos falar sobre Sob Pressão, série que nos deixou terça retrasada. Chamada por essa internet de Grey's Anatomy Brasileira, a série acertou muito, mas peca também. Vamos fazer um apelo à Globo para colocar roteiristas que acertem a mão, por favor.
Sob Pressão é uma série médica de nove episódios dirigida por Andrucha  Waddington, criada por Luiz Noronha, Claudio Torres e Renato e roteiriza por Jorge Furtado. Além disso, o elenco conta com Julio Andrade, Marjorie Estiano e Stepan Necerssian e vários convidados ilustres como o já citado no primeiro post Monarco, mas também Paulo Miklos e Luis Mello.
A série segue o esquema casos do dia e a história pessoal do Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano). Aí está o primeiro trunfo e o primeiro erro. Os dois personagens são otimamente interpretados, mas não existe tempo na grade para o desenvolvimento de dois casos e personagens, mais os coadjuvantes que não são poucos. Isso aponta para um erro de estruturação.
Após a morte da esposa, Madalena (Natália Lage), Evandro começa um quadro de depressão e se automedica e, nesse período de um ano, a ex-sogra resolve pô-lo na Justiça culpando-o pela morte da filha. Enquanto isso, Carolina revive fantasmas do passado relacionado a abusos familiares. Esse turbillhão de emoções acontecem num mundo caótico do sistema de saúde carioca, com falta de instrumentos, medicamentos e corrupção.
Os destaques entre os coadjuvantes são Stepan Necerssian, Orã Figueiredo e Carla Ribas. O personagem do Stepan, o diretor Samuel, não é tão profundo, mas é responsável por cenas muito boas sobre corrupção e fica entre o inconformado e cúmplice, dá para ver que ele não está confortável com as situações impostas. Orã Figueiredo é o alívio cômico representando um triângulo amoroso ou poligamia que é um personagem com mais desenvolvimento. Carla Ribas interpretou a ex-sogra do Evandro, intragável, ressentida, odiei a personagem a cada cena, mas é interessante ver que aquela mulher intransponível teria um pouco de empatia.

Ao longo dos nove episódios houve arcos sem sentido como o da Jaqueline (Heloisa Jorge) e Kelly (Talita Castro). Além de serem objetificadas, o histórico delas não foi aprofundado e, para elas estarem ali, elas devem ser boas atrizes. Um arco que surgiu do nada aparentemente é o arco do Rafael (Tatsu Carvalho); não dá nem para odiar o homem que foi figurante da própria história. Mas gostei bastante do episódio que teve residente Charles (Pablo Sanábio) protagonizando o tratamento de uma congolesa traficada.
Sob Pressão acerta muito nas temáticas que se propõe tratar. AIDS, abusos sexuais, violência doméstica, suicídio, tráfico de pessoas, doenças graves.

Com a segunda temporada confirmada e com 12 episódios, espero por uma história mais profunda ainda. A primeira temporada está disponível na Globo Play. Vale muito a pena assistir, por favor. É um choque de realidade fortíssimo!
Até a próxima!