O movimento romântico cultivava uma visão de mundo centrada no indivíduo, e portanto os autores voltam-se para si mesmo, retratando dramas pessoais como tragédias de amor, ideias utópicas, desejos de escapismo e amores platônicos impossíveis" - definição da Infoescola.
Eu dei uma pausa em Harry Potter para ler Iracema, de José de Alencar, e eu gostei bastante, porque eu não fui obrigado a lê-lo no Ensino Médio. No Ensino Médio, eu estudei Romantismo com os contos urbanos de Alencar, Cinco Minutos e A Viuvinha, que eram claramente mais leves que Iracema. E essa semana temos o Dia Internacional da Mulher (8 de março), nada melhor do que falar de uma mulher guerreira.
Iracema vai contar a história do amor da índia Iracema e o português Martim em terras brasileiras em pleno séc XVII, período que os europeus queriam sugar tudo da América. E é nessa introdução da cultura europeia no Brasil, principalmente no Norte, Nordeste, que José de Alencar escolhe para contar a lenda de origem do Ceará.
A trama começa quando Iracema encontra o europeu e o recepciona com um flecha. Mas quando a índia percebe que o homem não morreu e é conhecedor da cultura indígena, resolve levá-lo para o pajé e seu pai Araquém.
Daí surge um problema: Martim e Iracema se apaixonam. Só que Iracema é a virgem de Tupã, ou seja, ela guarda o segredo da jurema, uma poção alucinógena que leva os guerreiros ao mundo dos sonhos. Somado a isso, está o fato de que a protagonista era uma tabajara, uma tribo sem vinculação com os portugueses, e Martim era amigo da tribo pitiguara, que era justamente aliada dos portugueses, o que as punham em pé de guerra.
Nesse contexto, também está Irapuã, um índio guerreiro que tem um sentimento pela índia e não concorda em nada com a presença do branco na tribo tabajara. Montando enfim uma história de amor, de fuga e de guerra.
Quando Iracema foi escrito, em 1865, o Brasil, fazia 43 anos estava independente, porém ainda muito submisso financeira, politica e culturalmente da Europa e José de Alencar e outros românticos brasileiros se engajam na ideia de criar uma identidade nacional. Entre europeus, africanos e indígenas, os nacionalistas se inspiraram na figura guerreira do índio primitivo para chamar de brasileiro.
Com a figura encontrada, os românticos têm a missão de idealizar a figura do índio. E o Brasil não tem nada mais perfeito que a natureza selvagem. Se repararem, todo personagem de Iracema passa uma referência à natureza tropical exuberante e o texto em si é recheado de metáforas que relacionam qualquer coisa a um ave, um peixe, uma fruta, uma árvore.
Além da pureza intocável indígena, aqui se cria uma idealização desse português que chega à tribo tabajara. Martim é civilizado, romântico, guerreiro, cristão. E ele chega exatamente causando mudanças em tudo ali e isso que o branco representa no indianismo, a mudança dos costumes. Iracema, por exemplo, era mais guerreira início e depois vai virando mais uma bela, recatada e do lar.
Como estamos falando de Romantismo, as cenas de separação e união da índia e do branco são cercadas de dor, sofrimento, dramatização e mel. Tanto que no final Iracema morre de saudades de Martim que foi para guerra e demorou semanas para voltar. Quando voltou o seu filho já tinha nascido e se chamava Moacir, o filho do sofrimento, e primeiro cearense e fruto da miscigenação que melhor representa o Brasil.
Primeiro clássico do ano. Vou tentar a meta dos 5 livros de novo nesse 2017. Tudo que eu ler estará aqui de alguma forma. Eu tenho que terminar D. Quixote e eu comprei Crime e Castigo na BF2016. Então vamos trabalhar em ler!
Até segunda!
Nenhum comentário:
Postar um comentário