segunda-feira, 27 de março de 2017

"Power Rangers: O Filme"

In this white world, we the ones chosen
So goodnight, cruel world, I see you in the mornin' [...]
No one man should have all that power
The clock is tickin', I just count the hours"
Power, Kanye West

Go! Go, Power Rangers! Demorou tanto tempo para esse reboot! Mas chegou em boa hora, amém! Hoje é dia de falar de nostalgia boa, vamos falar dessa nova franquia que eu espero que seja um sucesso: Power Rangers: O Filme, produzido por Haim Saban, roteirizado por John Gatins e dirigido por Dean Israelite.
65 milhões de ano atrás, Zordon (Bryan Cranston) é traído por Rita Repulsa (Elizabeth Banks) enquanto tentava proteger o cristal zeo, o cristal da vida. O ex-Ranger Vermelho esconde os cristais do poder onde viria a ser a Alameda dos Anjos e Rita acaba virando um fóssil.
Nos dias atuais, cinco jovens, com no mínimo turbulenta, acabam encontrando os cristais do poder nas minas de ouro da Alameda dos Anjos e se tornam a nova geração do Power Rangers. Jason Scott (Dacre Montgomery) era um prodigioso jogador de futebol americano, que, em fuga, acaba sofrendo um acidente, sendo expulso do Tigers indo para a detenção. Kimberly Hart (Naomi Scott) era uma garota popular que comete um grave erro e termina também na detenção do colégio. Os dois conhecem na detenção Billy Cranston (RJ Cyler), um autista que sofre bullying constante na escola, mas quer honrar a memória do pai fazendo incursões à mina. A busca acaba chamando atenção do oriental Zack Taylor (Ludi Lin), que cuida da mãe doente em um trailer, e Trini Kwan (Becky G), uma solitária filha de uma família muito "normal" para ela. Os cinco juntos acabam descobrindo os cristais do poder e adquirem superpoderes.
O primeiro trunfo da direção de Dean Israelite é o jogo de câmaras. Uma dos primeiras cenas é um plano sequência dentro de um carro que acaba num acidente. As cenas na pedreira têm um trato diferente. As cenas de luta tanto de treinamento quanto de combate mesmo são bem organizadas e coreografadas. Tem uma cena envolvendo um garfo e um bolo que eu amei.
O destaque de atuação é do RJ Cyler, que interpreta o Billy. O ator faz um autista que não tem capacidade de entender as expressões dos outros, mas é dono de uma inteligência ímpar e de um carisma com o público invejável. Ao mesmo tempo que ele brilha, o personagem ajuda a elevar os personagens restantes.

Um dos personagens engrandecidos pela presença de RJ Cyler é Jason. A amizade entre Billy e Jason é um acerto no roteiro. Dacre também encarna o papel de líder muito bem, travando cenas muito boas com Zordon, talvez melhor do que eu esperava pelo histórico do personagem.
Enquanto Billy e Jason são os destaques, os outros rangers não acrescentam muito ao enredo além de serem os outros rangers. Cada um tem seu momento sozinho de tela, mas eles não são permitidos de crescer. Não encaro isso como um problema porque existem mais cinco filmes possíveis.

Outro destaque é Rita Repulsa. Muita gente achou o negativo o tom exagerado da personagem, mas eu achei adequado. Ela é uma vilã que ressuscita 65 milhões de anos depois, claramente atordoada com o novo mundo. Ela é psicótica, obsessiva, sádica e até animalesca, não lembrando nada com a original dos anos 90, que era só um loucamente cômica e toda afetada. A atual lembra mais a Trakeena.

A inovação da ideia de Zordon é maravilhosa. Amei o visual e ele ficou muito mais realçado do que aquela cabeça flutuante que ninguém nunca entendeu o por quê daquela pessoa ser um holograma de uma cabeça em um tubo. Eu gostei do visual do Alpha 5 (Bill Hader), mas ele ativou nenhuma memória afetiva, que era o que eu esperava mais na personagem.
A ação esperada demora muito para acontecer, sendo que o filme tem 2 horas e 4 minutos de duração. Ela funciona inicialmente como nostalgia porque eles precisam aprender a morfar, depois com surgimento dos zords. Mas essa batalha final precisava de mais desenvolvimento, embora o senso de destruição típico de Power Rangers esteja presente.
Entre sorrisos e lágrimas, Power Rangers se vale da nostalgia e da diversidade do elenco que é uma marca da série. Vale muito a pena assistir, principalmente pr'aqueles que cresceram com Power Rangers. Eu assisti todos desde Mighty Morphin' até Fúria da Selva.

Então comentem aqui embaixo sua temporada favorita e o seu vilão favorito também. A minha é a SPD, mas a mitologia de Força Mística também é interessante e Força do Tempo e Força Selvagem são memoráveis. E os meus vilões favoritos são os de Power Rangers: Força Selvagem, inclusive o lobo Zen-Aku que vira Merrick, o Ranger Prata.
Até segunda!

segunda-feira, 20 de março de 2017

Quarta Dose de HP - Assuntos Pesados

Lembrem-se de Cedrico Digorry. Lembrem-se, se chegar a hora de terem de escolher entre o que é certo e o que é fácil, lembrem-se do que aconteceu com um rapaz que era bom, generoso e corajoso porque ele cruzou o caminho de Lorde Voldemort. Lembrem-se de Cedrico Digorry. - Harry Potter e o Cálice de Fogo, p.527

Acho que já desisti de encontrar elogios para JK Rowling e sua genialidade. Em O Cálice de Fogo, o mundo mágico escrito de Rowling se expande muito, tanto em linha temporal quanto em espaço físico. A gente conhece o Ministério e os mecanismos dele mais de perto. Assim como chegamos a conhecer mais outras duas instituições educacionais, a Beauxbatons e a Durmstrang. E, soma-se a isso, a imprensa e seus sujos bastidores através de Rita Skeeter.
Além do crescimento do universo, a autora toca no assunto de grande importância que é a escravidão, que ali é representado pelo conflito de ideais de Dobby e Winky. Do mesmo modo, Harry Potter e o Cálice de Fogo lança uma luz sobre a afirmação de auto-estima e identidade que tange Hagrid, Hermione, Dobby, Rony, Fred e Jorge e também Harry Potter, que elucidam o fato de que mais importa o que as pessoas se tornam do que a origem de nascimento. Mas o quarto livro também é o livro mais violento até aqui e é esse assunto que vai nortear o post de hoje.
Ao longo desses quatro livros, JK Rowling cerca-nos de assuntos pesados como bullying, solidão, baixa auto-estima, terror, injustiça, tudo isso passando pelo tema "morte" que ganha forma maior nesse livro, incluindo a sua forma real, não é mesmo?
Acompanhando o "padrão Harry Potter", o ano está para começar, todos esperam um ano tranquilo, mas algo acontece em Hogwarts e/com Harry que arrasta a tensão que vai reger o livro. Pela primeira vez Potter é atacado abertamente sendo posto dentro do Torneio Tribruxo. Mesmo que o objetivo de quem o pôs ali não fosse expressamente matá-lo, as provas do torneio eram bem cruéis. Desde enfrentar dragões a salvar reféns submersos e lutar contra explosivins.
O livro termina com o renascimento do mal, Voldemort, e de seus Comensais da Morte, mais morte de um personagem e tortura de outro, tendo como saldo final uma bandeira de luto em vez de uma bandeira da casa vencedora  e vozes embargadas. É o primeiro livro que claramente a gente vê quem está deste e do outro lado.
Nesse livro, a gente percebe também como uma instituição de ensino pode ser capaz de ditar uma mudança na sociedade ao seu redor. E é nesse ponto que os leitores entendem que o primeiro passo é organizar a resistência. A partir disso, é possível o leitor enquanto criança criar o próprio filtro e notar que ninguém merece e deve estar passível da violência.
De uma maneira ou de outra a violência está enraigada na vida real. É comum lermos ou assistirmos várias notícias sobre tiroteio, roubos, assédio, e, quando a criança assiste isso, ela não é capaz de filtrar toda aquela enxurrada de informações significa. Um filme ou um livro tentam explicar isso, mas é bom que todo assunto passe pelo filtro dos pais.
Com o avanço da civilização, o tempo parece encurtar. Parece que não tem espaço para lazer e, no espaço que tem, os pais não se apresentam dispostos a se divertir e discutir certos assuntos com os filhos (vide Bartô Jr.). O pior que esses pais tendem a por culpa de alguns tipos de violência em livros, filmes e jogos e não na sociedade suja que molda nosso mundo real.

Para as crianças e jovens, um mundo fantástico onde personagens organizam a resistência contra o mal e o enfrentam de frente o grande vilão é mais esperançoso. É muito bom para esses futuros adultos criarem seus próprios heróis que simbolizam, de algum modo, paz e ordem. A literatura infanto-juvenil cumpre seu papel quando desperta dentro de um jovem alguma virtude e algum ensinamento de maneira muito didática e sutil.
Nos quatro livros lidos, JK Rowling perpetua sutileza e genialidade em passar discussões, informações, assim como criar um solução para o caso do livro (O que está escondido em Hogwarts? Onde está a Câmara Secreta? Cadê Sirius Black? Quem colocou o nome do Harry no Cálice?).

Que Rowling continue escrevendo pelo resto da vida.
Até segunda! E até Harry Potter e a Ordem da Fênix.

segunda-feira, 13 de março de 2017

"Logan"

I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real

Hurt, Johnny Cash

Assisti Logan  há uma semana e vim comentar. A história final do herói Wolverine na pele de Hugh Jackman foi narrado pelos roteiristas Michael Green e David James Kelly e dirigido por James Mangold e trouxe novamente às telas Pattrick Stewart como Professor Charles Xavier.
O filme se passa por volta do ano 2024, um futuro próximo, mas com um ar de desolação, onde os mutantes estão praticamente extintos. Nesse universo, Wolverine e Calban (Stephen Merchant) trabalham juntos para a sobrevivência do nonagenário Professor X.
Logan, que agora trabalha como motorista, acaba tendo seu caminho cruzado por Laura (Dafne Keen) e sua tutora. No desenrolar dos primeiros minutos, o nosso protagonista se vê obrigado a proteger a pequena Laura e o idoso professor numa road-trip, enquanto se auto-destrói.
A primeira coisa a que o longa se propõe é criar a atmosfera intimista e desoladora através de um personagem, conhecido pela força, estar viciado no álcool, meio-manco e com vista cansada. Além disso, o cenário apresentado é desértico beirando o gênero faroeste, que inclusive está no filme através de Os Brutos também Amam, de 1953.
Esse cenário "terra de ninguém" facilita a construção da personagem Laura, a mutante X-23  com os mesmos poderes do Wolverine. Dafne Keen conseguiu misturar selvageria e doçura inocente ao longo da trama. Ela é violenta demais, mas também tem gestos que te fazem lembrar que ela é uma criança "mal-criada". O que são os óculos escuros ela?
Os vilões interpretados por Boyd Holbrook e Richard E. Grant são personagens muito interessantes. Eles são seres humanos normais, mas encaram os mutantes com sobriedade de quem encara um igual ou até com certo desprezo.
O humor desse filme sempre tange o ácido, já que estamos falando do Wolverine. A rudeza do personagem gera aspereza nas relações dele com qualquer outro personagem gerando momentos cômicos principalmente quando ele tenta travar um diálogo com Laura, que consegue passar vários feelings sem nem mesmo falar em 3/4 do filme.
É bom lembrar que o conteúdo é mais dramático que de ação. Então não espere um encadeamento de cenas de ação com pontos de drama. Em Logan, são várias cenas que exigem carga expressiva pontuada por cenas de ação incrivelmente dirigidas. Os efeitos especiais, a coreografia estão realmente de parabéns.
Ah! Tem um post aqui no blog muito visualizado sobre crianças no cinema vendo filmes com classificação etária acima das suas próprias. Eu vi crianças de 4 anos, de 10, de 8, na minha sessão. Eu acredito que violência no meio ficcional não influencie completamente no comportamento de alguém, mas heróis como Wolverine e Deadpool abordam uma violência nada saudável para essas crianças. Eles são heróis sim, mas com vícios e poderes cujo único rastro é o sangue e membros decepados, isso inclui uma criança no elenco com o mesmo poder de destruição. Queridos pais, vamos ter senso! Tem que lera sinopse, ver o trailer e verificar a classificação etária.
Para quem pode, recomendo que assistam já! Drama, ação, densidade, força. Todo desfecho que esse personagem merece de fato!
Assiste e vem falar comigo, ok? Então até semana que vem!

segunda-feira, 6 de março de 2017

Resenha de "Iracema"

O movimento romântico cultivava uma visão de mundo centrada no indivíduo, e portanto os autores voltam-se para si mesmo, retratando dramas pessoais como tragédias de amor, ideias utópicas, desejos de escapismo e amores platônicos impossíveis" - definição da Infoescola.

Eu dei uma pausa em Harry Potter para ler Iracema, de José de Alencar, e eu gostei bastante, porque eu não fui obrigado a lê-lo no Ensino Médio. No Ensino Médio, eu estudei Romantismo com os contos urbanos de Alencar, Cinco Minutos  e A Viuvinha, que eram claramente mais leves que IracemaE essa semana temos o Dia Internacional da Mulher (8 de março), nada melhor do que falar de uma mulher guerreira.
Iracema vai contar a história do amor da índia Iracema e o português Martim em terras brasileiras em pleno séc XVII, período que os europeus queriam sugar tudo da América. E é nessa introdução da cultura europeia no Brasil, principalmente no Norte, Nordeste, que José de Alencar escolhe para contar a lenda de origem do Ceará.
A trama começa quando Iracema encontra o europeu e o recepciona com um flecha. Mas quando a índia percebe que o homem não morreu e é conhecedor da cultura indígena, resolve levá-lo para o pajé e seu pai Araquém.
Daí surge um problema: Martim e Iracema se apaixonam. Só que Iracema é a virgem de Tupã, ou seja, ela guarda o segredo da jurema, uma poção alucinógena que leva os guerreiros ao mundo dos sonhos. Somado a isso, está o fato de que a protagonista era uma tabajara, uma tribo sem vinculação com os portugueses, e Martim era amigo da tribo pitiguara, que era justamente aliada dos portugueses, o que as punham em pé de guerra.
Nesse contexto, também está Irapuã, um índio guerreiro que tem um sentimento pela índia e não concorda em nada com a presença do branco na tribo tabajara. Montando enfim uma história de amor, de fuga e de guerra.
Quando Iracema foi escrito, em 1865, o Brasil, fazia 43 anos estava independente, porém ainda muito submisso financeira, politica e culturalmente da Europa e José de Alencar e outros românticos brasileiros se engajam na ideia de criar uma identidade nacional. Entre europeus, africanos e indígenas, os nacionalistas se inspiraram na figura guerreira do índio primitivo para chamar de brasileiro.
Com a figura encontrada, os românticos têm a missão de idealizar a figura do índio. E o Brasil não tem nada mais perfeito que a natureza selvagem. Se repararem, todo personagem de Iracema passa uma referência à natureza tropical exuberante e o texto em si é recheado de metáforas que relacionam qualquer coisa a um ave, um peixe, uma fruta, uma árvore.
Além da pureza intocável indígena, aqui se cria uma idealização desse português que chega à tribo tabajara. Martim é civilizado, romântico, guerreiro, cristão. E ele chega exatamente causando mudanças em tudo ali e isso que o branco representa no indianismo, a mudança dos costumes. Iracema, por exemplo, era mais guerreira início e depois vai virando mais uma bela, recatada e do lar.
Como estamos falando de Romantismo, as cenas de separação e união da índia e do branco são cercadas de dor, sofrimento, dramatização e mel. Tanto que no final Iracema morre de saudades de Martim que foi para guerra e demorou semanas para voltar. Quando voltou o seu filho já tinha nascido e se chamava Moacir, o filho do sofrimento, e primeiro cearense e fruto da miscigenação que melhor representa o Brasil.
Primeiro clássico do ano. Vou tentar a meta dos 5 livros de novo nesse 2017. Tudo que eu ler estará aqui de alguma forma. Eu tenho que terminar D. Quixote e eu comprei Crime e Castigo na BF2016. Então vamos trabalhar em ler!
Até segunda!