segunda-feira, 20 de julho de 2015

"Como diria Vygotsky..." - Entrevista com César Sinicio (Cabine Literária)

Ele disse que seu hábito estranho enquanto lê é comer pipoca e não encontrar posição para ler mas eu realmente acho isso supernormal, porque eu sou desses também. Se compara com Violet Baudelaire, de "Desventuras em Série", de Lemony Snicket, porque gosta de solucionar os problemas, mas que adoraria ser um Klaus - leitor voraz -, porém se considera um pouco vadio. O livro que ele acredita que tenha mudado a vida dele é "A Quintessência Sagrada", da autora Starhawk, mas não tira da lista de preferidos os contos de Murilo Rubião e de Julio Cortazo. Sim, amigos, eu estou falando simpático César Sinicio, que conversou comigo nessa semana.
Além de ser da equipe do Cabine Literária, César é professor de inglês. Segundo ele mesmo, o contato de um professor com os livros e o universo pop, em si, ajuda a estabelecer uma relação com seus alunos. Desse modo, os alunos serão atingidos da forma que eles querem ser.
Para saber mais sobre o que ele falou comigo, continue lendo.

Entrevista com César Sinicio:

Na TV brasileira, vivemos submersos em estereótipos. Você acredita que os livros que lemos nos afastam deles?
César - Se os livros nos livram dos estereótipos, eu não sei, mas o referencial dos livros pode nos ajudar a criar outros espaços de conhecer o mundo. Nesse sentido, viver a leitura é viver outras vidas e viver outras vidas é aumentar as tuas chances de ver que o mundo não é uma coisa única.

Personagens femininas estão ganhando o espaço necessário?
César - Uma pergunta difícil de responder. É como personagens homossexuais, às vezes tem um homossexual e mais "15 casais" héteros, mas ele chama atenção. Da mesma forma como as protagonistas femininas não eram comuns e agora tem algumas; eu não sei se tem muitas ou se isso é uma impressão causada por ser algo inusitado. De qualquer forma existe sim um movimento de crescimento das personagens femininas. E eu acho que isso na literatura e em outras mídias, como no cinema, e essencialmente para as crianças,  é muito importante. Existem personagens femininas muito poderosas, elas são fáceis de se identificar, como em "Avatar - A Lenda de Korra" e até no próprio "Avatar" do Aang;

Você gravou um vídeo sobre a importância da violência de faz-de-conta para uma criança. Por que as pessoas acreditam nessa lenda de que a violência nas mídias influencia o comportamento de um jovem?
César - Eu tenho a sensação, com relação a essa fantasia "do que causa a violência?", de que as pessoas querem respostas fáceis. E, no fundo, há uma resposta fácil. Há alguns dias, eu vi no ônibus o pai e a mãe discutindo sobre um estupro que eles viram na reportagem tranquilamente na frente da criança. E essas coisas reais são assustadoras. A questão é: na verdade, o ser humano é animal e animal é violento! Só que é muito mais fácil pegar um filme de ação e dizer que ele é o culpado por isso, porque ali está tudo exacerbado, tem efeitos especiais, o sangue espirra... do que admitir duas coisas. Nº 1: somos bichos, somos animais e somos violentos. Toda vez que alguém invade o espaço que a gente considera nosso, nós nos tornamos violentos controladamente ou não. E o nº2: a violência do mundo real é difícil explicar e gera violência. Quando você se sente violado você quer revidar e ela (a violência) é muito intensa. Daí você o Datena e fica assustado. Mas na fantasia a gente brinca de tentar entender como é que a gente se torna herói, supera obstáculos e enfrenta desafios... pode sair sangue e tudo mais... mas é, na verdade, uma outra narrativa.


Você gosta de HQs? Você acha que as HQs são próximas da literatura ou é algo bem afastado, um outro tipo de arte?
César -  Histórias em quadrinhos, assim como a literatura, são uma forma de narrativa. Nesse sentido, elas são irmãs. Mas as estratégias são bastante diferentes. Existem as graphic novels que são um romance em quadrinhos. Isso prova que existe uma irmandade. Apesar de ter suas peculiaridades. Tem gente que só gosta de uma coisa, tem gente que gosta dos dois. Eu gosto dos dois de formas diferentes. Eu comecei lendo [A Turma da] Mônica, aí achava pouca coisa. Então comecei da ler os quadrinhos da Disney, Tio Patinhas, e depois fui para os heróis.

Eu estava vendo vídeos do Cabine e eu vi que você publicou um conto e, em um vídeo mais recente, você discute se os contos são realmente menores que os romances. Queria perguntar se o conto te ajudou a entrar no universo literário.
César - Por incrível que pareça, se a gente não contar os contos infantis, eu entrei no universo literário através de romances mesmo. Mais eu tenho a sensação de que o conto é subestimado e subaproveitado e que as pessoas não levam em consideração o poder que o conto tem. Mas se a gente for considerar os contos infantis... No fundo, a gente tem que contar. Minha introdução literária foi assim. Na verdade, nem foram os meus pais que leram para mim. Eu tinha uma coleção de disquinhos que eu colocava para tocar enquanto eu lia, e tocava musiquinha...

No ramo da fantasia, você acredita que algo mais possa ser criado? Ou Tolkien, Lewis e Martin, por exemplo, criaram algo ímpar difícil de ser inovado?
César - Eu não acho que a fantasia do Tolkien e do Lewis seja the ultimate fantasy e que nunca vai conseguir ser superado. Mas eles conseguiram estabelecer uma mitologia que mesmo outras pessoas continuam seguindo como os jogos de RPG e games. Todas essas outras mídias se utilizam contando que todo mundo vai entender o que é elfo, o que é dragão. Os caras fizeram escola! Isso não significa que tudo o que tinha que ser escrito já foi; mas criar uma nova mitologia é sempre bastante complicado. Então se torna um desafio para outros escritores. A única coisa que eu acho importante pensar: vale a pena cumprir esse desafio ou usá-los "tá de boas"? Não estou dizendo nem uma coisa nem outra. Tem gente que usa bem, tem gente que usa mal.

Sei que escreve peças. Iria muito além para expressar a sua arte?

César - Não sei se escrevo para expressar minha arte ou porque não tem outro jeito. Não tenho o ímpeto de mostrar quem eu sou através da minha arte; eu escrevi uma peça porque ela queria existir fora de mim. Eu digo para os meus amigos que eu morro de medo de ser o artista de uma obra só, mas, no fundo, reconheço que, se esse for o caso, não faço questão que minha arte apareça, faço questão que coisas boas apareçam. Em outras mídias, eu gosto de escrever contos, músicas e talvez, um dia, eu consiga escrever um romance. Eu escrevi uma peça e umas músicas que eu queria que saíssem do papel e ganhassem o palco, mas eu descobri, no grupo, pessoas legais e a fim de fazer teatro e de brincar juntos. A gente faz um musical e desafina. Talvez, para alguns grupos, isso seja inconcebível, mas, para mim, a energia que a gente consegue produzir como gente que está a fim de fazer a mesma coisa junto é mais importante que a precisão técnica. O que faz com que, no nosso grupo, a gente tenha muito menos preocupação com o certo e o errado.

O universo booktuber está crescendo?
César - Eu acredito que tem mais gente fazendo canal sobre livro e acho que isso muito bacana. Ao mesmo tempo, a pessoa tem um sonho de ter um canal famoso e não sei se esse é o caminho.
Eu tenho a sensação de que se, por um lado é bacana ver uma pessoa falando de livro sem ser considerado um bicho estranho, e, sim, legal, por outro lado, isso não significa que a pessoa necessariamente vai virar uma celebridade. E será que a pessoa tem que virar celebridade? Qual o seu objetivo: falar sobre livros ou querer virar uma celebridade? É óbvio que todo mundo quer ser visto e quanto mais gente te vê maior o alcance da sua mensagem. O que eu quero dizer é apenas que tomar um pouco de cuidado com o objetivo (conversar com os amigos? descobrir mais gente que curte livros? aumentar o alcance da mensagem dos livros?) Mas, se o seu objetivo é virar celebridade, não é um problema. O universo booktuber está crescendo e acho que a gente tem continuar investindo em gente que gosta de ler livro e gosta de falar de livro. Então vale a pena pensar no que é crucial para você.

Escolher o curso para a faculdade é um desafio. Você mesmo saiu de Psicologia e foi para Letras. Você tem um dica para quem quer encontrar a sua vocação?
César - Eu tenho uma série de restrições com Steve Jobs, mas tem uma coisa que ele fala sobre profissão. Ele fala que achar a profissão é como estar apaixonado. Então tem coisas que você gosta de fazer. Mas a ressalva a fazer é deixar claro que tem coisas que você vai ter que fazer para ganhar dinheiro que não é exatamente o que você ama de paixão. É contraditório, mas o nosso sistema é contraditório, e esse é problema. Às vezes é melhor você fazer uma coisa simples e ganhar dinheiro. Na verdade, eu não dei dica nenhuma (risos). O que eu queria dizer é que você tem que tentar equilibrar o que você gosta de fazer e a necessidade que a gente tem de viver na sociedade que a gente vive, não dá para ignorar isso, alguém tem que pagar as contas.

A última pergunta e mais importante: Você vem para a Bienal do Rio?
César - O Cabine Literária deve estar na Bienal do Rio, provavelmente no último final de semana. Alguns de nós vão. Aguardem!


Espero que tenham gostado da entrevista, porque eu e o César Sinicio gostamos. Eu estava muito nervoso, mas foi muito legal a entrevista. Se quiserem ver o César toda semana, ele posta os vídeos dele no canal Cabine Literária às sextas-feiras. E para ter mais de mim, eu sempre posto aqui na segunda-feira.
Até segunda!

3 comentários:

  1. A-D-O-R-E-I a entrevista. Perguntas ótimas, para um ótimo entrevistado.

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  2. Ficou ótima a entrevista! Adorei tudo! E foi muito bom saber que alguns de vocês no cabine virão para Bienal! E Matheus, acho melhor você trocar de curso e ir para jornalismo kkkkkk

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