segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sexta Dose de HP - Vilania

Ela estendeu a mão para retomar o medalhão. Por um momento, Harry pensou que Voldemort não ia deixar, mas logo o medalhão escorregava entre seus dedos e estava de volta ao acolchoado de veludo vermelho.
- Eis aí, Tom, querido, e espero que tenha gostado!
A bruxa olhou-o diretamente no rosto e, pela primeira vez, Harry viu o sorriso tolo dela vacilar - Harry Potter e o Enigma do Príncipe, pág. 316


Eis que sou jogado no chão, pisado, sambado e humilhado, mas estou para escrever mais texto sobre Harry Potter e dessa vez sobre Harry Potter e o Enigma do Príncipe, o sexto livro da série. Para você que achava a morte de Cedrico Diggory destruidora...
Mas para coroar o sexto livro, JK Rowling se encarrega de criar uma atmosfera em volta da Sonserina e foca na construção de, mais especificamente, três personagens: Draco Malfoy, Snape e Lorde Voldemort. Por esse motivo eu vou falar sobre a vilania dentro do Mundo Mágico.
Já tivemos Professor Quirrel, basilisco, Pedro Pettigrew, os Dementadores, Bartô Crouch Jr., Dolores Umbridge e os mais seleto time de Comensais da Morte que inclui Lucio Malfoy e Belatriz Lestrange. Mas nesse livro, Dumbledore se propõe a dar aulas de Voldemort a Harry já que as aulas de Oclumência do Professor Snape deram muito errado. Portanto, acompanhamos o crescimento de Tom Riddle, desde antes do seu nascimento até o início de sua vida profissional.
Além disso, Snape e Draco vão sendo criados lentamente durante os cincos anteriores como personagens irritantes, mas nesse volume a gente percebe até onde cada um dos dois podem chegar. E eles chegam longe.
Desde sempre o leitor sabe os objetivos de Lorde Voldemort, mas só nesse livro fica mais claro os seus motivos. Um motivo dele perpassa por sua similaridade com o protagonista. Ambos são órfãos e mestiços. O que fez de Harry uma pessoa carente, fez de Tom uma pessoa fria, embora tenham em Hogwarts uma casa que os acolheu.
Tom Riddle tem todo um arco de psicopata bem arquitetado. Ele é fruto de um relacionamento baseado em uma poção do amor e desilusão amorosa. Nasce em um orfanato odiando o pai que o abandonou e, depois, a mãe quando descobriu que se apaixonou por um trouxa. Antes de ser convocado à Hogwarts já controlava alguns aspectos da magia e já amedrontava os coleguinhas do orfanato.
Uma vez estudando em Hogwarts  e instalado na Sonserina, Riddle desenvolve seu lado sedutor e manipulador, conquistando, assim como Draco, um grupo de amigos, admiradores e seguidores, que depois seriam os Comensais da Morte. Então ele vê nas Horcruxes a chance de uma possível vida eterna, para isso ele precisaria matar, o que ele faz sem remorsos. Voldemort, por fim, é egocêntrico, psicopata, mas também, megalomaníaco, só que tem medo de Dumbledore e de Harry Potter.
Já Snape é aquele aluno que sempre sofreu bullying pela simples razão de existir. Nós já vimos como acabam várias histórias de bullying, e eu não estou falando de Thirteen Reasons Why, estou falando dos Massacres de Columbine e Realengo. Mas Snape não acabou se tornando um assassino em massa, só um Comensal da Morte rancoroso que aprendeu a criar  feitiços e manipular poções.

Embora vítima de bullying e recluso, não demorou para se mostrar trevoso, dissimulado e até egocêntrico se auto-intitulando Prícipe Mestiço. Com Harry detendo o livro de Poções de Severo a gente se arremeda pela cabeça de um aluno extremamente inteligente, mas inclinado para o mal. Todos entendiam Snape como perverso, mas não como assassino.
Porém Draco Malfoy é típico Comensal honrado por servir Lorde Voldemort. Nasceu rico e sangue-puro e já doutrinado a odiar o que é diferente e subjugar os seus iguais. Ou seja, Malfoy simplesmente é o que ele foi ensinado a ser. A partir daí ele se mostra cruel e narcisista, renegando até ajuda do Professor Snape. Para ódio do vilão, Draco não é capaz de matar ainda, mas não sei se em Relíquias de Morte ele vai fazer a linha arrependido ou ovelha negra entre os Comensais.
JK Rowling conseguiu construir uma gama de vilões muito interessante e cada um com um jeito diferente. Fenrir Greyback é sanguinário e canibal. Dolores Umbridge é preconceituosa sob uma capa de doçura sonsa. Lucio é do time que pode ver o barco afundar desde que ele tenha um bote. Narcisa é faço-tudo-pela-família. No fim, a autora não erra na construção de um grupo heterogêneo que luta pelo poder das trevas e onde isso pode os levar.


Você tem um vilão favorito em Harry Potter? E o que você acha mais genial na história de JK Rowling?
Nos vemos na próxima segunda!

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Quinta Dose de HP - Politicamente Incorreto

POR ORDEM DA ALTA INQUISIDORA DE HOGWARTS

Todas as organizações, sociedades, times, grupos e clubes estudantis estão doravante dissolvidos.
O estudante que tiver organizado ou pertencer a uma organização, sociedade, um time, grupo ou clube não aprovado pela Alta Inquisidora será expulso. - Harry Potter e a Ordem da Fênix, p.289


Começando a reta final do projeto 7 Doses de HP, hoje temos de falar de Harry Potter e a Ordem da Fênix. o quinto livro da saga de JK Rowling que que percebi ser um livro "ame ou odeie" e eu consegui entender os dois lados.
O leitor de Harry Potter estava acostumado a ler livros bem mais dinâmicos que Ordem da Fênix. Os três primeiros eram bem embasados em romance policial e suspense enquanto o quarto trabalha uma espécie de disputa intercolegial, o Torneio Tribruxo, mas o quinto não tem um Mistério, um Caso. Claro que você quer saber o que está atrás da porta do Departamento de Mistérios, mas não é isso que move o enredo nesse livro, porque esse é um livro de contexto político.
Após a morte de Cedrico Diggory, o Ministério insiste que nada aconteceu de anormal e que a ideia do renascimento de Lorde Voldemort narrado por Harry e Dumbledore é loucura. E, como agora Dumbledore não é mais tão confiável e opositor aos ideais  de Cornélio, Fudge envia Dolores Umbridge para ser professora de Defesa Contra as Artes das Trevas e cria o cargo de Alta Inquisidora, mais ou menos o Poder Moderador, dentro da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Esse livro, então, ganha outros ares. Em um momento a gente estava lutando contra as tentativas de Voldemort surgir, nesse, o tom vira um um Hogwarts contra o Ministério, mais precisamente Ordem da Fênix contra o Ministério e Voldemort fica em "segundo plano".  E Umbridge ganha o papel de vilã a altura para esse jogo de poder.
Em tempos de mudança política, a única coisa que a sociedade quer que as coisas avancem, mas, em vez de aceitar que a situação está ruim e identificar as deficiências, Cornélio tenta abafar tudo  e coloca a Umbridge ali para imprimir um retrocesso com cara de avanço. Duvido que Filch não pareça com alguém da sua família.

Harry Potter e a Ordem da Fênix aprofunda a questão questão do poder da mídia, mas surge com a outra temática, o Autoritarismo. Um regime com essa característica impede a formação de grupos opositores, valida seus atos com argumentos baseados na emoção popular, aprova a perseguição. O Ministério da Magia põe uma Alta Inquisidora no órgão opositor, Hogwarts; através de Umbridge, as aulas práticas de Defesa são  reduzidas a leituras, e os alunos são proibidos de se unirem  em grupos que sugiram movimento estudantil. Enfim Hogwarts vira um território de hostilidade política e censura escancarada.
JK Rowling foi genial em trazer esse tema político ao universo de Harry Potter. A autora incentiva claramente o movimento estudantil quando cria a Armada de Dumbledore. Um grupo de estudantes que se unem para se embasar sobre um assunto que lhes foi privado para poder enfrentar um inimigo muito grande e o sistema.
Com facilidade, o livro abre uma brecha para falar de corrupção e hipocrisia. O conservadorismo dos bruxos os enchem de contradições idiotas. Analisando a árvore genealógica da família Black, a gente percebe que quase todos os Comensais da Morte passaram por ali. Os Lestrange e os Malfoy são ligados aos Black por causa desse Orgulho Puro-Sangue. Sendo que já foi provado que os bruxos precisam dos trouxas para perpetuarem a magia.

Além disso, nós já acompanhamos diversas formas de Lúcio Malfoy fugir da justiça. O poder Malfoy é incontestável: dinheiro. Uma família rica e influente que tem sempre um primo, um assecla, no Ministério, para fazer o que ele quer. E, no final deste livro, em que ele é preso, o Draco joga na cara de Harry que o pai vai sair facilmente da cadeia. Afinal, os Comensais da Morte são a nata da sociedade mágica que não aguenta um pobre, um trouxa, um nascido-trouxa. Você pode trocar facilmente essas denominações por aqui que dá no mesmo. Tem muito Comensal no Brasil Voldemort approves.

Acho que não tem nada mais a acrescentar. Harry Potter e a Ordem da Fênix grita crítica social, somando à mistura a viagem adolescente de Harry (que para mim foi um ponto negativo, mas não podemos negar que não existam adolescentes como ele). Agora eu entendo alguns argumentos do tipo: Como você leu Harry Potter e tem esse pensamento? Tem gente que lê errado. Infelizmente.
Até segunda!