segunda-feira, 22 de maio de 2017

Cara Gente Branca

Quando nos zombam ou menosprezam, vocês reforçam um sistema existente. Policiais com uma arma na mão, olhando para um negro, não veem um ser humano. Eles veem uma caricatura, um bandido, um preto. - Cara Gente Branca, S01E01

Cara Gente Branca, ou Dear White People, é uma série original da Netflix criada por Justin Simien baseado no filme homônimo de 2014 do mesmo diretor com algumas alterações no elenco. A série é um drama e uma sátira sobre a negritude e sobre racismo descarado e velado. Cara gente de qualquer cor, acompanhe-me nesse post.
Depois de uma festa de Halloween com a temática blackface, a Universidade de Winchester entra em uma extensa discussão sobre o racismo em seu interior. A fraternidade Armstrong-Parker, uma casa para negros, entra em ebulição porque eles não sabem como reagir ao parecia não existir. Na liderança da militância está Samantha White (Logan Browning), uma mestiça que tem que medo de expor o seu relacionamento interracial com Gabe (John Patrick Amedori).

A cada episódio, algumas cenas são vistas pelos olhos de um personagem diferente. O primeiro episódio é da Sam, mas o segundo é do Lionel (DeRon Horton), por exemplo. Esse esquema ajuda na dinamicidade da série além de mostrar diversos pontos de vista sobre a negritude. Perguntas sobre eficiência da militância são levantadas e qual a importância de lutar pelos seus direitos, a importância de se afirmar.
Entre o drama e a comédia, a produção não se encontra, embora eu não saiba se havia alguma pretensão de escolher algum lado. Alguns episódios são bem satíricos e gera bons risos, outros como o quinto episódio, dão um choque dramático de realidade. No geral, a série é leve. São episódios de 25 a 30 minutos com uma boa dose de tapas na cara.
O elenco conta com destaques. Além de Logan Browning que passa toda confusão de uma pessoa que está em constante afirmação e conflitos, DeRon Horton, Antoinette Robertson e Marque Richardson. DeRon Horton interpreta um introspectivo estudante de Jornalismo com conflitos acerca de sua sexualidade, ao mesmo tempo usa seu trabalho no jornal da faculdade para expressar os problemas raciais pela qual a Winchester está passando. Antoinette Robertson encarna Coco Conners, uma mulher longe da militância que tenta se "camuflar" na elite branca através de cabelo e grife, mas ela não é só essa tentativa de "enbranquecimento"; Coco tem diversas camadas e é interessante acompanhar os episódios dela. Marque Richardson faz Reggie Green, também militante. O personagem tem inteligência, engajamento político e está em constante embate com o que pensam dele em vez do que ele realmente.

Não posso terminar o texto sem falar do narrador do narrador e das trilhas de abertura. A narração de Giancarlo Esposito, de Breaking Bad  e Once Upon a Time, somada às músicas instrumentais (acho que até toca o hino do EUA), ajuda no tom irônica impresso na trama.
Dear White People levanta a bandeira da pluralidade dentro do movimento negro. Não é porque a cor é a mesma que os interesses são os mesmos. O povo negro não é uma massa sem rosto que os esteriótipos comportam. Existem Cocos, Sams, Joelles, Lionels, Troys. Os personagens são diversos e sutis aqui em Cara Gente Branca.

Essa série é uma das melhores surpresas de 2017. Vai no Netflix, assiste e volta aqui pra comentar.
Até mais!

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Thirteen Reasons Why

I can never say all this to you, but I love you. And I will never hurt you. I'm not going. Not now. Not never. I love you, Hannah!
Why didn't you say this to me when I was alive? - Thirteen Reasons Why. S01E11
Vai ser uma review estranha. Essa série estranhamente não permite uma resenha normal como fiz de Sense8 ou Stranger Things. A série tem aspecto bons e ruins que são bem discrepantes, talvez, vamos porque isso aqui vai ter "duas partes".
A série vai contar o cotidiano dos adolescentes alunos da Liberty High antes e depois do suicídio de Hannah Baker e das fitas que ela deixa. Talvez por vingança ou conscientização dos que ainda vivem, Hannah grava 13 fitas para explicar o que a levou ao ponto de se matar e está na vez de Clay Jensen saber os 13 porquês da colega de classe.
Vou começar pela técnica para depois ir para o lado da temática.
Thirteen Reasons Why é uma série original da Netflix adaptada por Brian Yorkey a partir do livro Os Treze Porquês, de Jay Asher, e produzido pela Paramount. O elenco conta com Dylan Minnette, como Clay, Katherine Langford, como Hannah, e Kate Walsh, como Olivia Baker.
O primeiro ponto problemático é que a voz da Hannah nas fitas não passam emoção, ou beiram o rancor. Ela nunca entrega na voz um sofrimento mesmo que contido. É sempre um tom mais monocórdico, você nunca sente o que ela está sentindo através da narração e sim através da interpretação "física" dos personagens.
Dylan Minnette consegue passar a confusão mental pela qual ele está passando e a existência de personagem como ele como protagonista é essencial para abordar a temática. Tirando o lado romântico do Clay, ele é a ilustração da maioria de nós. Aqueles que estão perto e inserido no cotidiano, mas não coragem, talvez, de se aproximar e perguntar se está tudo bem.
Mas o maior destaque vai para Kate Walsh, o nossa Olivia Baker. Ela tem um quê de Joyce, de Stranger Things, mas é única. Olivia consegue sofrer na hora certa, ser firme quando precisa. A personagem é uma mãe toda quebrada por dentro, que está se sentindo impotente e se vê no dever de honrar a memória da filha.
A produção erra e acerta no aspecto tempo-presente e tempo-passado. Presumindo uma lerdeza do público, eles simplesmente criam um machucado para Clay incurável e várias cenas acontecem para reforçar o ferimento, mas a fotografia já estava encarregada disso na paleta de cores. As cenas no presente são frias e azuladas. Por isso a separação é bem clara, não precisava do machucado do Clay.
Outro problema é que os personagens estão dentro e alguns esteriótipos que a gente já está habituado desde criança com as narrativas sobre escola americana. Existe o esportistas e as cheerleaders que se sentem superiores e os que sofrem bullying, e eles dificilmente saem dessa zona.
Apesar dos problemas, Thirteen Reasons Why cumpre o que se propõe: discutir suicídio, bullying e machismo. Qualquer coisa que cause polêmica vai proporcionar publicidade e mais discussão e o assunto é importante. A protagonista Hannah Baker passa por diversos maus momentos. Ela passa por problemas que afetam o moral dela, a sexualidade dela, até ela se sentir vazia, sem motivo para existir.
Ao longo dos capítulos, o espectador vê que ela tenta ser feliz. A pesar de ela não conversar com ninguém sobre os problemas que ela está passando, a personagem buscou a cada episódio uma solução para os seus receios. Ela faz amizades que ruem porque as pessoas não se importam em ver o lado dela.
A série tem como um dos assuntos principais a violência  psicológica e física à mulher. A Hannah  é objetificada  do primeiro até o último episódio. Muitas cenas geram nojo. As pessoas da Liberty High realmente não parecem interessadas no que as meninas daquela escola pensam, inclusive elas mesmas não ajudam.
Alguns episódios claramente não dá para entender porque a Hannah maximiza tanto o que aconteceu, algumas fitas são perdas de tempo. Ao mesmo tempo é impossível não entender o ponto de cada um mesmo que você fica revoltado (meu ódio pela Courtney está aí para exemplificar). Por isso a série é mais direcionada ao público que sempre conviveu do lado de alguém que sofreu durante a vida escolar. Você consegue se enquadrar no ponto de vista do Clay, por exemplo, facilmente.
Em suma, eu achei o roteiro meio  ruim, mas que soube usar cenas de impacto na reta final. Se você quiser assistir por curiosidade, recomendo se preparar para essas cenas (a cena que o Clay descreve a morte da Hannah é horrível e doloroso). Thirteen Reasons Why  está longe de ser minha série favorita, porém vale dar um atenção.
Até segunda!

P.S.: Esse post era para sair semana passada ou retrasada, mas não consegui me organizar para isso acontecer porque eu comecei a faculdade e minha rotina virou de cabeça para baixo e eu consegui um dia vazio para entregar para vocês esse texto. Desculpe-me pelas duas semanas sem nada. E por esse motivo também eu não tenho a mínima ideia de quando vai sair o texto sobre o último livro de Harry Potter, mas vai sair. Enquanto isso terão outros textinhos do jeito de sempre. Até semana que vem!