segunda-feira, 24 de outubro de 2016

"Work" ou "Bang"

Será que existe um meio de reverter tão triste estado das coisas? - UOL

Essa linda frase foi retirada de uma reportagem do UOL (ainda quero entender porque eu entro nesse site) que falava que os programas de calouros The Voice Brasil e The X Factor Brasil demonstram a decadência da cultura musical brasileira. Segundo o texto, tudo que veio depois do rock dos anos 80 e 90, nada prestou e esse é o principal motivo de ouvirmos muitos calouros cantando musicais internacionais, ou sertanejo.
Será mesmo que depois de Renato Russo e Cazuza não existiu nada de interessante? Ou será que mesmo que tudo produzido neste século não importa? Será que seu gosto musical não basta?
Com a Globalização, o mundo realmente se tornou menor e a tecnologia ajudou nisso. Deste modo, é muito fácil importar uma música e diversificar essa produção. Soma-se a isso o fato que a maior potência econômica é os EUA.

A partir desse ponto de vista é claro que a gente come ao estilo americano, a gente bebe ao estilo americano, se veste ao estilo americano, vê desenhos e séries americanos, e por que não cantar músicas americanas? Inglês é a língua universal afinal e fica essa sensação de que cantar em português é mesma coisa que não te ouvirem.

Essa última questão também se adéqua à época na qual as músicas são feitas e ao objetivo para o qual essas músicas foram feitas. Cartola foi muito influente no samba por o morro e ser um dos primeiros a chamar atenção para isso. Nos anos 50 surge a Bossa Nova para dizer que a classe média e os ricos poderiam cantar samba também e marcara época.
Durante a Ditadura Militar (1964 - 1985), os músicos precisavam dizer o que estava acontecendo aqui no Brasil sem dizer. Aí surge músicas que marcaram a história musical brasileira. Elis Regina, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Cazuza, Renato Russo cresceram e cantaram nessa época. Mas não podemos esquecer que, embora a Ditadura tenha acontecido no Brasil todo, o interior do país tinha outras formas de expressão, como o forró, o baião, o xaxado, o caipira.
Com o período da redemocratização e o fim da censura, o Brasil podia falar mais abertamente sobre o que queria, ou seja, a gente podia gritar Que país é este? sem problemas. E, em 1990, ocorre a queda das músicas engajadas porque não tinha exatamente com o que brigar no sentido nacional.
Cresce a música comercial, os pagodes melosos e os sertanejos explodem e conquistam, assim como o próprio Mamonas Assassinas que traziam humor ao cenário musical. Sob minha ótica, não há nada de errado em não fazer arte engajada. Música também é uma forma de escapismo. assim como os livros que tanto indicamos nesse blog.
Se o problema deixou de ser o Brasil inteiro, a periferia continuava silenciada. A nossa periferia se identificou com o subúrbio americano e vamos importar o hip-hop e fazer o nosso próprio estilo. No Rio de Janeiro, se contrói o funk e o charme e, em São Paulo, o rap ganha orça com os Racionais MC's. O pior que os dois, até hoje, ainda são marginalizados.
Na minha ideia de mundo, a única forma de aceitar o as músicas produzidas hoje é se permitir "provar" esses novos gostos. Uma pessoa só faz sucesso porque el se destaca no que faz, por exemplo, a Anitta. Anitta não se destacaria se a temática dela não fosse a liberdade da mulher no funk que é um meio machista, do mesmo jeito que a Karol Conká, no rap, e as diversas novas cantoras no sertanejo, no arrocha e na sofrência. Se uma das maiores discussões desta década é a posição da mulher na sociedade, o cenário musical tem que se dispor a ilustrar isso.
Infelizmente, algumas pessoas pararam no tempo e só consomem música antiga, o que não é defeito, e ignoram cantores como Ana Carolina, Maria Gadú, Maria Rita, Tiago Iorc, Suricato, Emicida, ou preferem consumir Rihanna, Beyoncé, Linkin' Park, Justin Timberlake, por preconceito bobo baseado no complexo de vira-lata típico do brasileiro.
Programas do tamanho do The Voice Brasil só servem para apontar como está o gosto musical do Brasil em si e buscar a melhor voz/banda com R&B ou sem R&B, com gingado, com carisma. Com 5 temporadas de programa já foi claramente escrachado que o Brasil é um país com uma diversidade enorme que vai da MPB ao sertanejo e com qualidade.
Não vejo a chegada de músicas estrangeiras aqui como um problema. A Globalização serve exatamente como uma troca de culturas, uma mistura para contribuir com a cultura nacional.
A única forma de conviver com música de qualquer lugar é se permitir experimentar outros estilos. Se permitir ser eclético. Garantir que está julgando com razão certo estilo. A letra que não te representa pode representar outra pessoa. Eu não entendo, por exemplo, por que alguém prefere escutar Work, da Rihanna, e rejeita Bang, da Anitta.
Foi quase um desabafo esse texto de hoje, mas espero que tenham gostado. Viva a música!
Até segunda!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Resenha de "Ninguém escreve ao Coronel"

Ninguém escreve ao Coronel é um dos primeiros livro de Gabriel García Márquez, autor colombiano que , em 1982, ganhou o Nobel de Literatura por toda obra. Seu conjunto de obras inclui Amor nos tempos de Cólera, Memórias de minhas putas tristes e Cem anos de Solidão. Quem leu Quem é você, Alasca? vai lembrar do livro que Alasca lia, O General em seu labirinto. Pois é, também era dele. Infelizmente, o autor morreu em 17 de abril de 2015, no México, aos 87 anos de pneumonia já aposentado.

Escrito em 1987 e publicado em 1961, Ninguém escreve ao Coronel narra o cotidiano de um casal que perdeu o filho num tiroteio e a única fonte de renda. Em uma pequena da Colômbia, um enterro mobiliza a cidade e faz relembrar das tristezas e revela o estado quase miserável dos protagonistas.
Coronel aposentado, a protagonista espera sua pensão de veterano de guerra depois da Guerra dos Mil Dias que nunca chegou. Toda sexta o homem parte para o cais para receber o tão esperado dinheiro.
Além disso, o filho assassinado deixou de herança um galo de rinha. Uma herança controversa, já que rinhas, além de ilegais, só começavam em janeiro e a história começa em outubro.
A narrativa vai tratar desesperançosamente a busca incessante por essa pensão e a dúvida insistente sobre vender ou não o galo do filho, enquanto tenta vender os próprios itens da casa. Em uma sociedade obviamente machista e com um personagem ex-militar, é possível esperar que o coronel seja um personagem orgulhoso e que não aceita as ideias da esposa (lembra do Robb que não ouvia a Cat? Só que não acabou em Casamento Vermelho).
O livro me lembrou de algo meio Machado Assis, com um ironia que nesse livro beira o engraçado, e, ao mesmo tempo, de algo próximo de Vidas Secas. A ironia, a graça e a miséria das personagens me causaram essa sensação de que Ninguém escreve ao Coronel poderia fazer parte da literatura brasileira.
Um adendo interessante À história é a História da Colômbia. A vida do Coronel se confunde com a história do país, com a situação econômica atual, com as questôes do Canal do Panamá.

É uma leitura interessante, não muito contagiante e nem se propõe a isso. Gabriel García Márquez vem contar uma história angustiante, penosa, embora tenha só 95 páginas.
Agora quero ler Cem anos de Solidão que ouço tanto a Mel Ferráz, do Literature-se, falar.
Até segunda que vem, parças.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Resenha de "A Dança dos Dragões"

Neste mundo só o inverno é certo. Nós podemos perder nossa cabeça, é verdade... mas e se prevalecermos? - A Dança dos Dragões, George R. R. Martin

Hoje vim do livro A Dança dos Dragões, da série As Crônicas de Gelo e Fogo, escrita por George R. R. Martin, nosso serial killer. O quinto livro da série é outra metade de O Festim dos Corvos.

Como esse é o quinto livro tem spoiler sobre os livros anteriores, principalmente dos três primeiros.

Lembra que quarto livro tratou sobre a parte Sul de Westeros, Pyke e Bravos? Neste volume vamos continuar a história sobre os personagens que não foram focados naquele livro. Então esse livro se passa no Norte, na Muralha, em Para-Lá-Da-Muralha e em Essos (majoritariamente em Meereen). Um pouco depois da metade nós voltamos a ver todo o mapa d'As Crônicas de Gelo e Fogo.
Jon e Daenerys estão em posições semelhantes, só não sei quem está mais desesperado. Jon está na Muralha com o Rei Stannis espezinhando sua vida enquanto  tenta, como 998º Senhor Comandante, negociar com o povo livre uma aliança que vai fazer a construção de gelo estremecer.
Já Daenerys está crente que todos os povos da Baía dos Escravos estão na estão na vibe Princesa Isabel. Mas, na realidade, com Drogon solto por aí e as hierarquias yunkaítas ressurgindo, a Mãe dos Dragões descobre que o título de Destruidora de Correntes incomoda toda uma economia baseada na escravidão.
Tyrion está numa viagem instigante em Essos. Após matar o pai Lorde Tywin Lannister e a amante Shae, o Duende encontra o Magíster Illyrio Mopatis do outro lado do Mar Estreito e embarca para a tão famosa última Targaryen. No caminho, vamos ter tantas descobertas e histórias quanto Tyrion sempre foi capaz de nos proporcionar.
Neste livro também nos deparamos com um Theon Greyjoy bem diferente. É de doer. Eu sempre odiei o personagem, mas o inimigo agora é outro. Nas garras do Bastardo de Bolton, Ramsay, Theon vai ser escurraçado, mas será o dono da melhor história de A Dança dos Dragões.

Enquanto Bran se encontra perto do fim de sua roadtrip em Para-lá-da-Muralha, o jovem Príncipe Quentyn Martell sai de Volantis para encontrar e salvar Daenerys Targaryen e trazê-la em segurança para Dorne.
Esse, realmente, é o livro com mais altos e baixos que Martin já escreveu na série (com mais altos do que baixos, graças a Velha). O clima "e agora?" do livro anterior se foi, afinal nesses núcleos não temos luto. O clima aqui é "o inverno está chegando e os mortos andam" com o sintoma de caos completo. Acho que caos é o que consegue definir esse livro.

No mar, tempestade. Ao norte, o povo livro está morrendo de frio e pelos Outros. Em Meereen, ameaça dentro e fora dos muros. Todos desesperados para coroar algum rei já que os Lannister estão no fundo do poço. Caos.
Nesse caos, a gente tem personagens testam nossa paciência. Quentyn Martell, Victarion Greyjoy e Rainha Selyse imploravam por um fogo e sangue. Eu ainda amo a Dany, mas reconheço o mau uso da nossa khaleesi que passava mais tempo pronunciando seus títulos que agindo.
Mas os outros personagens destruíram em cena. Os irmãos Asha e Theon Greyjoy foram o ponto alto do livro, assim como os capítulos da Cersei e da Arya na metade final.
Martin, por favor, vamos elevar os Martell. E adoro o Doran, a Arianne e as Serpentes. E por Bran e Davos mais tempo nos próximos livros.
Estou com sede de inverno agora. George Martin tem uma habilidade de prender o leitor que me faria ler Os Ventos do Inverno neste momento. Mas é aquele ditado, né. Não existe nem previsão. Desse jeito, só me resta terminar de ver as últimas temporadas.
Tchau e até segunda-feira.