segunda-feira, 12 de junho de 2017

Vamos naturalizar isso?

Don't let them in, don't let them see
Be the good girl you have to be
Conceal, don't feel, don't let them know
Well, now they know - Let it go, Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez

Isso vai ser meio upside down, mas pode ser necessário.
O tema de hoje vai ser LGBT e sobre desenhos animados voltados para o público infantil.Eu estava com medo de esse texto ser muito especulativo, falando de personagens sem base. Então comecemos por não existem personagens oficialmente LGBT na tela. Ah, e podemas Marcelline e Jujuba? Ah, mas Rose e Pérola? A gente pode questionar, ver uns detalhes, mas não tem ninguém que se assuma em relacionamento. Isso por si só já é um argumento, mas vamos debater.

Pensando que saiu uma pesquisa da PUC-RS dizendo que mais de um terço dos jovens (18 a 34 anos) homens são gays assumidos e mais de um quinto da mulheres são lésbicas, é um pouco bizarro imaginar que esse povo todo nasceu e cresceu em um ambiente heteronormativo e não são héteros também. Você pode se forçar a lembrar que desenhos animados também não exploram relacionamentos heterossexuais, mas em cada um existe pelo menos um personagem que se apaixone por uma pessoa de outro sexo, quando não mais de um personagem. Timmy Turner ama Trixie, Jimmy Neutron ama Cindy, Chickie ama Angelica, Alex, Clover e Sam sempre estão atrás de uns homens, e o que são aqueles meninos do Clube da Winx, se história se bastava com as meninas? E não esqueçamos TODOS os filmes da Disney que a gente já viu.

Vamos lembrar que representatividade não é só para deixar a comunidade LGBT feliz, serve para mostrar para a população em geral que ela existe, e é diversa, não uma teia de esteriótipos. A falta de instrução exclui e violenta e mata. A representatividade não levaria a existirem casas-"abrigo" para gays expulsos de casa. A representatividade não levaria à agressão dentro de faculdades. A representatividade não levaria ao massacre em Orlando, nem ao Brasil ser o país que tem mais assassinatos de trans e travestis. Até na mídia, os dados apontam que 84% das lésbicas morrem durante a trama vamos representar, mas vamos representar corretamente.
Outra loucura é associar alguns esteriótipos a vilões. A gente pode reparar nas gesticulações do Scar e Jafar, fora a maquiagem que só ele usa entre os personagens de Alladin. A Ursula foi inspirada em uma drag queen (e foi uma homenagem). E o que falar do Ele de As Meninas Superpoderosas? Mesmo sendo um dos desenhos mais empoderadores, o Ele é um ser andrógeno que usa pompons, botas altas, vestido, e voz dele tá longe de ser masculina para um personagem "masculino".

Acho que depois disso tudo, eu acredito sim que deveria haver sim representatividade nos desenhos animados. Em fevereiro, eu postei uma interpretação do rap Mandume e nessa música  tem um verso no final  que diz: "Chega de tanta didática, a vida é muito vasta para gastar nosso tempo ensinando o que já deveriam ter aprendido". Embora isso se refira ao movimento negro, essa frase se encaixa nesse contexto porque, quando se entra em uma discussão sobre gênero e sexualidade, surgem inúmeras dúvidas que são banais, mas não são, pois não é instruído, ou relevante que se saiba. Se, desde crianças, as pessoas tivessem contato, seria naturalizado. Existem famílias com duas mães ou dois pais, o filho desses casais precisa ser a representação deles na tela, ele precisa se ver na tela.
Se na literatura, Rick Riordan se preocupou com a construção do Nico como personagem homossexual, por que não se pode mostrar uma criança com dois pais?
Vamos refletir, né?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário