segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Resenha de "Fios de Prata"

Lembro-me de uma que ela disse que via pessoas rezando pelo mal do outro [...] E então ela pensava em quantas pessoas poderiam se inspirar naquilo e buscar metas maiores igualmente. Só que agora ela está naquela maldita cama sem como acordar. E eu me pergunto: quem vai sonhar por ela agora? - Fios de Prata, pág. 198


Advinha quem destruiu meu coração de novo. Raphael Draccon, dessa vez, com o livro Fios de Prata.
Como o autor já tinha alcançado o meu gosto fui na Bienal 2015 louco atrás de mais livros dele. Além de comprar o lançamento do ano Cidades de Dragão, comprei Fios de Prata, um livro de 2012 lançado pela LeYa.
Fios de Prata - Reconstruindo Sandman é um livro que se banha na obra de Neil Gaiman, Sandman, para criar algo próprio e potente, navegando pelo mundo dos sonhos e sua mitologia.
O ponto de partida da história é a ida do astro do futebol Mikael Santiago, o Allejo, a Paris para assinar contrato com o PSG e patrocinadores enquanto começa a ter terríveis pesadelos. Enquanto se ambienta em Paris, Allejo vai conhecer a ginasta gaúcha Ariana Rochembach por quem vai se apaixonar e se dispôr a ir ao Inferno por ela.
Enquanto o relacionamento de Mikael e Ariana evolui, os deuses do Sonhar começam a tramar estratagemas que vão alterar todo globo terrestre e seus sonhos e pensamentos, inclusive os dos nossos protagonistas que passam a se tornar peças  importantes do jogo de poder do plano onírico.
A construção da história para a situação conflito é muito interessante. Todos os personagens são lentamente criados, mas, mesmo assim, a narrativa não deixa se desinteressante e, sim, dinâmica. Os capítulos vão se alternando entre os pesadelos do Mikael, a real dele, os jogos de Madelein, o Anjo dos Sonhos Despertos, os planos de Phobetor e dos personagens periféricos que a gente tenta buscar o motivo da existência deles.
Os personagens que Raphael Draccon cria são de fácil apego e entendimento. Phobetor é a personificação do medo, da amibição e da inveja, afinal é o deus dos pesadelos. Morpheus é um rei que teme o pelo trono. Phantasos é o deus da fantasia e nem por isso não é lógico e racional. E Madelein é um anjo que quer vingança, mas também joga o jogo dos tronos como Mindinho.

Raphael Draccon também acerta quando amplia as consequências das decisões dos deuses na vida humana. São trechos de, no máximo, 3 parágrafos que contam e forma quase jornalística, seca e impactante o que está acontecendo ao redor do mundo.
Além disso, é um livro narrado através de metáforas interessantíssimas tornam este livro um dos mais inteligentes dele, assim como possivelmente o melhor do autor. A diagramação contribui para a grandiosidade da narrativa, às vezes até concretista.
Eu gostei bastante do final. Lágrimas positivas rolaram, mas eu puder perceber um ar acelerado(?) no momento que poderia ser lento. Aqui o jogo vai à guerra e, em um momento, é necessário voltar ao jogo, ao palavrório, e o Draccon se vale do recurso famoso "deus ex machina" para desacelerar.
Aconselho colocar Fios de Prata na frente da sua lista. Graças ao livro eu quero conhecer Neil Gaiman. Vamos tratar de achar barato Sandman.

Raphael Draccon merece esse mundo depois desse livro. Pode ter certeza que quando eu estiver escrevendo estarei debaixo da sua árvore, porque você é incrível.
Até segunda!

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